A série “Histórias em caixas” é uma pesquisa que tem como objetivo resgatar e valorizar a memória individual e coletiva da negritude. Para isso, parte do resgate da memória familiar perdida, incompleta e esquecida no fundo de caixas, onde as histórias escondidas de um Brasil escravista e eugenista se revelam por meio de registros fotográficos de uma família interracial. Este ato representa o resgate da memória individual de uma família que perdeu suas origens de vista devido ao apagamento de sua história, que reside na oralidade dos mais velhos. É também uma tentativa de curar a ferida aberta causada pelo silêncio transmitido de geração em geração, resultado do rancor de relações familiares desgastadas.
Cada imagem deriva de uma memória que, por ter sido esquecida e negligenciada, se tornou uma ferida, e relembrar e reproduzi-las é uma forma de cura. O personagem central é o filho mestiço, ainda “branco”, no colo dos pais. As obras utilizam caixas de papelão como suporte, uma embalagem popular frequentemente feita de materiais reciclados e comumente aproveitada para armazenar todo tipo de coisas, inclusive memórias.