1. Os trabalhos da série “Do lar?”, em que, a materialidade dos trabalhos se faz da mestiçagem de materiais têxteis com outros elementos como arame de alumínio e goma de polvilho, tecendo a trama entre bordado, costura e têxtil, para propor reflexões sobre a relação central da mulher com o espaço doméstico (o lar), o regime hierarquizante de poder do patriarcado e suas dimensões: o privado, a maternidade, a idealização da feminilidade, a proteção, o trabalho reprodutivo e o cuidado.
O trabalho doméstico está diretamente ligado às questões do cuidado, no trabalho “Acabou o açúcar”, escultura têxtil em forma de aparelho de chá, com bordado à mão tridimensional, formando a frase “acabou o açúcar” e a palavra “servidão”, produzido com linha de algodão, tecido de cambraia bordada, estruturado com goma de polvilho doce; teço a relação do trabalho não remunerado e questões sobre a construção da feminilidade, dependência e servidão. As palavras bordadas remetem às músicas “Com açúcar e com afeto” de Chico Buarque, e “Amélia” de Mário Lago e Ataulfo Alves, que cantam a figura feminina de maneira submissa, subserviente e resignada.
As mulheres trabalham o tempo todo. Nas famílias monoparentais, a maioria delas são “chefiadas” por mulheres que “trabalham fora”, mas que não param de fazer o trabalho doméstico e do cuidado. E quem cuida de quem cuida? Como nos libertamos desse peso? Como conseguimos cuidar de nós mesmas?